segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

031 - Fundos: Os desafios dos novos presidentes

Os dois maiores fundos de pensão do país—Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) e Petros (dos funcionários da Petrobras) — trocaram recentemente seus presidentes. Sob nova administração, devem enfrentar desafios maiores do que os superados pelos antecessores: investir em ativos de maior risco para ampliar a rentabilidade de suas carteiras, lidar com pressões veladas do governo em participar de grandes projetos de infraestrutura e considerar o aumento da longevidade no cálculo atuarial. “São questões com as quais os ex-presidentes das fundações não tiveram de lidar e que estarão no topo da lista de preocupações dos atuais dirigentes”, destaca Everaldo França, diretor da consultoria PPS Portfólio.
Se os desafios são grandes, a competência para administrá-los é igualmente extensa, avaliam especialistas. “Tanto Ricardo Flores [que assumiu a Previ em maio do ano passado], quanto Luis Carlos Fernandes Afonso [nomeado presidente da Petros no início desta semana] já tinham conhecimento de finanças e controles internos e não devem enfrentar dificuldades ao assumir a presidência dos dois maiores fundos de pensão do país”, acredita Flávio Rabelo, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele ressalta que hoje a gestão das fundações não é tão afetada por mudanças na presidência da República como foi no passado recente.
Atualmente, o patrimônio líquido dos fundos de pensão dos funcionário do BB e Petrobras soma cerca de R$ 190 bilhões, o que corresponde a mais de 38% do segmento de previdência complementar fechada — em agosto do ano passado, o patrimônio das fundações ligadas à Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) era de R$ 500,2 bilhões. Para efeitos comparativos, ao final de dezembro de 2003, esse montante era de R$ 310,9 bilhões.
Não é segredo que o governo conta com a participação dos fundos de pensão — principalmente os de empresas estatais — em grandes projetos de infraestrutura exigidos para receber a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016. “Não vejo problema na participação dos fundos de pensão em projetos de infraestrutura. Mas o investimento deve ser rentável para os participantes”, pondera Éder Carvalhes, diretor executivo da consultoria NKL2 Soluções Atuariais. “Acho difícil um projeto ruim ser aprovado, mesmo que haja pressões políticas”, completa França, da PPS. O professor da FGV lembra que a governança dos fundos de pensão foi aprimorada ao longo dos anos. Tanto em termos regulatórios quanto em iniciativas internas. “Hoje vemos uma profissionalização da gestão das entidades fechadas de previdência complementar, com mais transparência, qualificação e colaboração dos participantes do fundo.”
Além disso, Previ e Petros contam com equipes técnicas próprias capacitadas. “Nenhum dirigente toma qualquer decisão de investimento sozinho. E isso é umdiferencial em relação às fundações de menor porte, nas quais os presidentes são os responsáveis pelas principais decisões”, compara o diretor da PPS Portfólio
Meta atuarial: Um ano difícil
Um dos principais desafios a ser enfrentado pelos gestores de fundos de pensão é a sofisticação dos investimentos em busca de rentabilidade. E esse movimento se mostra cada vez mais necessário em um ambiente de taxa de juros decrescente e inflação em alta. “Sabíamos que 2010 seria um ano desafiador em termos de estratégia de investimentos. Só não imaginávamos que seria nessa magnitude”, ressalta Raphael Santoro, consultor sênior da área de investimentos da consultoria Mercer.
O vilão do ano passado foi a Bolsa de Valores. Estudo elaborado pelo núcleo técnico da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), a pedido do Brasil Econômico, mostra que a rentabilidade projetada dos fundos de pensão em 2010 ficou próxima a 9,9%, contra uma necessidade atuarial de 12,76%. Mesmo se o Ibovespa fechasse aos 71 mil pontos, a meta não seria batida.
“O desempenho mediano da BM&FBovespa, aliado ao repique da inflação, dificultou o atingimento da meta atuarial”, explica Mario Amigo, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA-USP) e da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).
O desempenho da carteira só não foi pior graças à rentabilidade da renda fixa. “Os investimentos em renda fixa apresentaram boa performance em 2010, principalmente os títulos indexados à inflação, mas não foram suficientes para anular o desempenho ruim da bolsa brasileira”, explica Santoro.
Na opinião de especialistas, o fato de não atingir a meta atuarial não deve ser visto apenas de forma negativa. “Os fundos de pensão têm horizonte de longo prazo. Então, as perdas registradas em determinados anos são compensadas pelos ganhos passados”, pondera o professor da FIA-USP e Fipecafi.
Entre 2003 e agosto de 2010, a rentabilidade acumulada pelas entidades fechadas de previdência complementar foi de 267%, contra uma meta atuarial de 138% no mesmo período em análise, de acordo com a Abrapp. “Os resultados de 2010 serviram de alerta para as fundações. A partir de agora, será necessário correr mais risco, caso queiram honrar com os compromissos”, diz Amigo. (Brasil Econômico/Diário dos Fundos de Pensão)
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